28 de setembro de 2018

#Conto 5 - Nada normal


Era para ser mais uma daquelas vidas normais, em que só se vive levando em consideração que a rotina não mudaria. Os hábitos, a programação, deveria ser seguida como sempre, para que a vida não levasse um daqueles revertérios estranhos que mudam toda a estrutura dos dias. Uma vez que eles já aconteceram e passamos a evitar o máximo para que não voltem a se repetir. Não é necessário passar por isso novamente, sendo que tais experiências não trouxeram nada de bom. Quantos anos se passaram desde que eu escrevera alguma poesia? Sim, eu era poeta. Pelo menos considerava que eu já havia sido. Há muito tempo, de fato. Mas uma poeta que só sabia escrever sobre tais revertérios. Da vida e principalmente do coração. Nunca tive sorte nessas coisas. Inclusive já havia aceitado isso. Por isso me apeguei a rotina. A rotina não trazia sensações estranhas e inspirações tristes. Aquele aperto no peito que só angustiava e maltratava. Minha vida finalmente estava tranquila e relativamente estável. Mesmo que eu não estivesse propriamente feliz, me bastava não estar triste e melancólica a cada menção de nomes passados. 

Era para ser mas um daqueles dias normais, em que se chega em casa só para descansar. Depois de um longo dia trabalho e dos tratamentos corriqueiros tentando manter uma vida saudável. Uma terça, se me lembro bem. O dia já estava quase no fim, bem tarde da noite me preparando para ir dormir. Vendo aquela zona do quarto que precisava ser arrumada, além dos preparativos para o dia seguinte para minha tão estimada rotina. O telefone havia tocado enquanto eu estava fora. Era um número desconhecido e eu não sei ao certo porque eu retornei. O código de área era da cidade, então não poderia ser uma ligação sem algum motivo, certo? Acabou que nem me era tão desconhecido assim. E mesmo que eu relutasse em continuar com aquela nossa conversa, quando percebi, haviam se passado minutos, horas e eu só me despedi porque eu precisava ir dormir. Mas fui com uma promessa de retorno, que não me incomodou de que acontecesse naquele momento. 

Era para ser mais uma daquelas amizades normais, em que se conversa frequentemente sobre tudo e sobre nada. Se desabafa sobre o dia e acaba se descobrindo tantas coisas que se tem em comum que todo tipo de assunto flui naturalmente. E a lista não parava de aumentar. Até falamos sobre não precisarmos conversar todos os dias, mas todos dias ele encontrava motivos para ligar e eu não tinha motivos para não atender. E antes que eu percebesse estava fazendo parte de uma rotina nova. Uma em que ele começou a fazer parte, me inspirando tantos sonhos e futuros que eu não podia imaginar mais serem possíveis de se acontecer. Enquanto dizia esperar vir uma poesia de mim, eu já havia lhe escrito. Eu estava me tornando poeta de novo. E o que me assustava não eram as poesias, e sim o que elas poderiam lhe dizer. Isso significava que meu mundo ia revirar do avesso, ia se desestabilizar, se bagunçar por completo. Isso me amedrontava e eu comecei a querer me afastar. Embora quanto mais eu dizia que ia pra longe, mais havia motivos para me aproximar. Tentei evitar ao máximo o nosso encontro, porque não sabia como meu coração reagiria. 

Era para ser mais um daqueles encontros normais, em que se encontra alguém sem esperar que aquilo mude sua vida para sempre, embora a timidez me fizesse ter os nervos a flor da pele. Pude ouvir sua voz, te sentir tão perto e, mesmo que por uma fração tão pequena de segundos, olhar nos seus olhos. Não queria mostrar os meus, pois sei o que mostrariam. Eu queria esperar para que você se cansasse, para que você desistisse, para que você não insistisse mais e fizesse essa sensação passar. Não queria parecer ingênua, assustada, perdida, esperançosa, e me deixando apaixonar. Mas todas as barreiras que eu haviam construído, desmoronaram por completo quando aquele abraço aconteceu. Então percebi que era ali que eu queria ficar para sempre. Eu descobri o que era todo aquele turbilhão de sentimentos a seu respeito e eu sentia toda a reciprocidade que me era oferecida. E eu aceitei todos os planos, todos os poemas e todo o amor que me foi oferecido. 


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